Um sinistro 'atentado terrorista', de contornos quasi kafkianos, foi e continua a ser perpetrado por energúmenos - que outra coisa lhes poderei chamar?! - que se auto-denominam arquitectos e engenheiros na Escola Secundária Sebastião e Silva - o antigo e nosso mui estimado e amado Liceu de Oeiras!
Sim, esse, o das grandes e belas recordações da nossa adolescência. Das nossas ambições, dos nossos êxitos e fracassos, dos nossos sonhos, do nosso experimentar e testar as pessoas, a vida e o mundo, dos nossos namoricos efémeros, da nossa vida enfim.
Inaugurado em 18 de Outubro de 1952, este estabelecimento de ensino, de grandes tradições, era até há poucos dias, um dos melhores exemplares da arquitectura de Estado Novo para esta tipologia de edifícios.
Ao longo dos seus 57 anos de existência, poucas ou nenhumas foram as alterações que lhe fizeram na traça original, pelo que qualquer estudante de arquitectura ou história o podia utilizar como modelo de arquitectura da mencionada tipologia.
A maioria das alterações passaram apenas por construção, efémera, de pré-fabricados e pequenos acrescentos nos pátios exteriores.
O triste e funesto drama que o Liceu de Oeiras está a viver conta-se em poucas palavras:
O Ministério da Educação decidiu - 2007 ou 2008 - promover obras de melhoramento no edifício, e avançou com um projecto de intervenção. Não foi questionada a justeza do mesmo, pois o edifício apresentava alguns aspectos de degradação interior, como humidade, e necessitava de intervenção para melhorar as condições de trabalho.
O projecto foi aprovado pela autarquia e as obras avançaram, cremos que em meados de Agosto último.
O que ninguém augurava é que a coberto dessa intervenção, que se pensava seria apenas no edifício em si mesmo, em particular e só no interior, se assistisse a uma intervenção também nos espaços exteriores, na envolvente paisagística, nomeadamente nos pátios, densamente arborizados com magníficos espécimes de árvores - amendoeiras e tílias, p.ex. -, também elas sem dúvida, além do edifício, património, pois estavam perfeitamente integradas na paisagem envolvente do edifício, sendo que muitas, não duvidamos, pelo seu porte seriam da data de construção do Liceu - 57 anos, recordemos. Ora acontece que diversas destas espécies foram abatidas, arrancadas, e outras têm o mesmo destino prometido. Fala-se em números que rondam os 130 exemplares de árvores arrancadas!!
Que os espaços exteriores pudessem ser alvo de alguns melhoramentos, aceita-se e compreende-se.
O que consideramos um verdadeiro acto de terrorismo é o corte daqueles belos e enormes exemplares de espécimes arbóreos, cada vez mais raros na nossa paisagem. Árvores perfeitamente integradas nos espaços a que pertenciam, e que proporcionavam abrigo nas suas copas a centenas de avezinhas que as procuravam, quer para construir ninhos, quer para se alimentarem de insectos, assim como abrigavam as pessoas da chuva, que as procuravam em chuvosos dias de Inverno, ou do sol inclemente nos dias quentes de Verão.
Ficam aqui algumas fotografias do Pátio da Amendoeira, antes e depois do atentado, onde se pode apreciar a profusão e diversidade de espécimes que existiam e desapareceram:
Mais fotografias podem ser vistas no Flickr:
- Fotografias do Liceu ANTES das obras, em várias datas: http://www.flickr.com/photos/42019201@N05/sets/72157622459745684/
- Fotografias e vídeos do Liceu AGORA, após início das obras: http://www.flickr.com/photos/42019201@N05/sets/72157622336707297/
nota 1: Está a correr um abaixo-assinado (papel) sobre este tema.
nota 2: O programa "Nós por Cá" da SIC esteve na ESSS, após lhe ter sido feita uma denúncia, e aguarda-se que a reportagem seja exibida.
nota 3: Foi igualmente efectuado um contacto com a Quercus, aguardando-se desta uma resposta.
Sobre a história interessantíssima do vetusto Liceu Nacional de Oeiras, clique aqui.
Aceda também à Associação de Antigos Alunos e Amigos do Liceu Nacional de Oeiras / Escola Secundária Sebastião e Silva, aqui. Se lhe agradar e for do seu interesse, convidamo-lo a registar-se no site.
Não fiquemos indiferentes aos desmandos desta corja de tecnocratas despudorados e sem rumo que destroem o nosso património natural e paisagístico !!
Adenda: Publicámos esta mesma peça nos nossos blogues pessoais "Rememorar Oeiras" (28-09-2009, 03:06:55), "Olharapo de Oeiras" (28-09-2009, 03:24:38) e "Caracol Carolas" (28-09-2009, 03:15:13), e enviámos por email para todos os nossos contactos (28-09-2009, 04h16:44).
Foram várias as respostas ao email que nos chegaram, directa ou indirectamente, de amigos e conhecidos indignados com o caso. Deixamos aqui alguns dos depoimentos:
Henrique S.: Temos que fazer uma ampla divulgação, chegar aos merdia... isto é um crime, na minha escola também.
Helder C.: (...) eu já me tinha interrogado dessa situação. (...) avisto o Liceu onde fui muito feliz e surpreendi-me com o arranque das árvores e, na ocasião, estava até acompanhado e não pude deixar de comentar, com espanto, que estavam a cortar as árvores do meu Liceu. É um atentado, um crime ambiental e paisagistico que é capaz de ter a chancela da CMO. E agora que as árvores foram arrancadas à vida e à nossa também, o que podemos fazer? O que fazer dos 3000 sobreiros que foram também arrancados em Benavente com o beneplácito dos politicos do PSD/CDS em 2005? Este País mete nojo. Conta comigo para a luta. Um abraço.
Jorge C.: Meu caro, estou perplexo! Divulguei, como pedes, pela minha rede de contactos, com a seguinte mensagem: Amizades, Recebi o artigo abaixo proveniente do amigo José António Baptista. Divulguem, se acharem por bem. Alguém ensandeceu, perdeu a vergonha ou acredita que já ninguém se interessa. Nenhuma das opções é razoável e receio bem que este exemplo reuna as três... O que terão feito as árvores a esta gentinha que tanto a perturba? Abraços.
José E.: (...) mas não queria deixar de lhe dar conhecimento, porque também isto está dentro do campo de acção da nossa Associação. Um abraço
Henrique A: Boa tarde, Não sou associado, mas o seu e-mail chegou-me por pessoas amigas. Em resposta envio-lhe algumas fotos e vídeos que guardei oportunamente. Fi-lo exactamente porque esta situação me chocou. Eu próprio contactei a Câmara Municipal e a Junta de Freguesia. Tanto uma como outra foram céleres na resposta, dizendo que esta intervenção não era da sua responsabilidade. Faça-me o favor de utilizar ou partilhar o que lhe envio como bem entender. Cumprimentos,
Fátima: Embora não esteja ligada ao antigo Liceu de Oeiras por laços afectivos tão profundos como os vossos, magoa-me igualmente o abate das árvores, seja onde for... Aliás, toda a gente sabe que as árvores podem ser re-plantadas noutro sítio - mas ninguém ausculta os cidadãos não fossem estes exigir um processo tão dispendioso e demorado... Eu sei que toda a gente sabe isto, não estou a dar novidade alguma a ninguém; apenas quero exprimir aqui a minha solidariedade para com o movimento que se está a desencadear. Em geral quem destrói, quer que o seu nome fique ligado a uma obra nova. Mas há certamente formas mais criativas de integrar o antigo nas novas formas que se pretende criar sem entrar na política radical da terra queimada: As árvores são seres vivos, duram mais que um ser humano, tal como os animais não se podem queixar, somos nós que ao plantá-las, nos tornamos responsáveis pela sua manutenção e conservação - faz parte dos nossos deveres para com a Natureza, e a beleza, o conforto, e a utilidade que dela usufruimos. Isto parece Poesia, e até é! Mas a Vida, para prosseguir, não precisa só de Técnicas; nem só de Poesia - precisa de Respeito. Se acharem alguma utilidade neste mail, por favor, usem-no. um abraço para todos
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