[ polémica ]
Paço de Arcos
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Paço dos Arcos
O Palácio dos Arcos - ou Paço dos Arcos como preferimos - é um monumento incontornável para quem visita Paço de Arcos. Um ex-libris e um cartão de visita daquela vila.
Tem uma área bruta de 2.000 metros quadrados distribuída por três pisos, e está classificado como Monumento de Interesse Municipal.
É um edifício de linhas simples, mas muito interessante e cuidado.
Situado em pleno Centro Histórico da vila de Paço de Arcos junto à Avenida Marginal e ao Rio Tejo, é impossível que passe despercebido.
Foi construído no século XV - “(…) Encontrámos registo documental que comprova a sua existência já em 1437! (…) “ diz-nos o Dr. Jorge Miranda, historiador de História local do Concelho de Oeiras.
Pertenceu a Antão Martins Homem, segundo capitão da Vila da Praia.
Passou por uma reedificação durante o século XVIII.
Pertencia ao morgadio de Paço de Arcos, criado em 1698 por D. Teresa Eufrásia de Meneses, que o legou a D. Jorge Henriques, Senhor das Alcáçovas.
Posteriormente o Palácio foi pertença da família Lencastre, cujo brasão - de Henrique e Lencastre - ainda é visível na varanda do edifício.
Do conjunto original, o actual edifício mantém os dois torreões ligados por uma grande varanda, sob a qual subjazem três grandes arcos.
Conserva também a capela, com um magnífico altar barroco, dedicado a Nossa Senhora do Rosário.
Do interior do Palácio nada podemos adiantar, pois nunca lá entrámos e não o conhecemos, nem encontrámos imagens ou informação sobre este aspecto.
Está dotado dum magnífico e enorme Jardim/Parque, constituído por diversos espécimes centenários de arbustos e árvores de grande porte, algumas muito raras - como Belas-Sombras [ Phytolacca dioica ] e um Dragoeiro [ Dracaena draco ], entre muitas outras - também estes considerados Património.
Este Jardim é o que resta da extensa quinta na qual se integrava o Palácio.
Não é assim de estranhar que existam ainda vestígios dum poço, de minas de água, dum tanque e da antiga rede encanada de abastecimento de água da quinta e do Palácio.
Segundo rezam as crónicas, El-Rei D. Manuel I, o Venturoso, e a sua filha D. Maria, teriam estado hopedados em várias ocasiões no Palácio, quer para participar em caçadas na quinta do morgadio, quer para assistir à partida das caravelas para a Índia.
Segundo as mesmas, também os reis D. Fernando, D. Luis e a rainha D. Maria Pia, deslocaram-se ao Palácio para assistirem às célebes e tradicionais regatas de Paço de Arcos.
Quanto ao nome, quer do Palácio, quer da vila, sobre qual deu o nome a qual, a polémica permanece.
Supôs-se que a vila teria recebido o nome a partir da designação do Palácio.
Ainda não foi possível chegar a uma conclusão definitiva, apesar dos esforços dos historiadores.
Contudo é cada vez mais aceite que não existe qualquer relação.
Presentemente, desde 1997, o monumento é propriedade da Câmara Municipal de Oeiras, tendo passado para esta por morte do seu último proprietário, o Conde de Arronchella e de Castelo de Paiva, José Martinho de Arrochela Pinto de Lencastre Ferrão, que o legou, junto com o recheio, em testamento ao Município de Oeiras com a condição de ali ser feita uma Casa-Museu com o seu nome.
Nos últimos tempos foram detectadas algumas patologias no edifício, que conduziram a Câmara à decisão de adaptar o Palácio a uma unidade hoteleira, um hotel de charme, tendo como contrapartida a recuperação e reabilitação do edifício.
Esta decisão levantou acesa polémica na população, assim como entre os historiadores e nas pessoas da Cultura, quer pelo receio de ver perdido de forma irreparável e irrecuperável o ‘seu’ monumento, quer pela perda da fruição pública do seu agradável Jardim.
O Jardim desaparece quase completamente, a julgar pelas maquetas do projecto arquitectónico e deixa, é claro, de estar acessível à fruição da população, mesmo que alguma parte dele seja poupada, pois deixa de estar aberto ao exterior, fazendo-se o acesso pela recepção do hotel. É o que nos parece, apesar do que diz o promotor, que ‘garante’ que o Jardim vai estar aberto ao público…
Tem sido denunciado também com veemência, que se procure iludir a população, designando como ‘hotel de charme’ uma unidade hoteleira prevista para albergar 60 ou 70 quartos.
O que posteriormente foi desmentido, tendo sido esclarecido que se trata duma ‘pousada’ com 90 quartos!… De mal a pior...
Outro receio que tem sido exposto, deve-se a que esteja previsto a recepção, as salas de estar, o restaurante, o bar, a biblioteca e as cozinhas do hotel, serem construída no próprio Palácio, e os quartos em edifícios construídos no Jardim - que desaparece - e a ligação entre os edifícios a construir (quartos) e os serviços instalados no Palácio ser feita através da Capela. Como? Alterando o quê?
Preocupante é também o destino do valioso espólio do Palácio, legado pelo Conde de Arronchella, destinado à Casa-Museu, e do qual nada se sabe - nem sequer se ainda está no Palácio, ou se terá ido para parte incerta.
Sobre este espólio diz-nos o Dr. Jorge Miranda: “(…) De maior relevo, lembramo-nos de ter visto, com muito apreço, uma valiosa árvore da vida, em marfim, o retrato de D. Teresa Eufrásia de Meneses, do século XVIII, instituidora do morgado dos Arcos, a aguarela de Enrico Casanova, que foi o mestre do rei D. Carlos, representando o palácio dos Arcos, e o interessante e esclarecedor desenho, inacabado, de uma regata na baía de Paço de Arcos nos anos 70 do século XIX , e pouco mais. Agora, lemos que também lá se encontram (ou encontravam) trabalhos pictóricos de Vieira da Silva, Almada Negreiros e Mário Cesariny. E que mais com “peso”, para além de alguns valiosos móveis que sabemos a câmara ter mandado já restaurar? (…)”
Apresentamos de seguida diversas imagens que mostram o Palácio e o Jardim como eram antes das alterações que estão a decorrer; imagens das maquetas do projecto que dão uma (pálida) ideia das profundas alterações, em especial no Jardim; e imagens das obras a decorrer.
Vista aérea do Paço dos Arcos e Jardim, anterior à intervenção.
Aguarela com uma representação do Paço dos Arcos em tempos antigos.
Publicada no blogue Portugal, sem indicação de autor, data ou proveniência.
Fotografia do Paço dos Arcos nos anos 50 do séc. XX, de António Passaporte.
legendada “Palácio dos Arcos // António Passaporte, séc XX // in Álbum com vista sobre Oeiras,1992, CMO”
Fotografia do Paço dos Arcos não datada, mas talvez dos anos 50 do séc. XX.
Fotografia da maqueta do projecto arquitectónico, publicada na imprensa.
Imagem da maqueta 3D do projecto arquitectónico.
O Paço dos Arcos em obras, 16-06-2012.
Abate de árvores no Jardim.
O enquadramento urbano do Paço dos Arcos e Jardim, 08-10-2006.
O Paço dos Arcos com os torreões e a grande varanda virada ao Tejo, 08-08-2007.
Torreão e corpo poente do Paço dos Arcos, 08-08-2007.
Corpo poente do Paço dos Arcos. O arco ao fundo é a entrada para o pátio e Jardim, 08-08-2007.
Torreão poente do Paço dos Arcos, 08-08-2007.
Corpo poente do Paço dos Arcos, 08-08-2007.
Entrada do pátio e Jardim do Paço dos Arcos, 08-08-2007.
Pátio e portão de entrada do Jardim do Paço dos Arcos, 08-08-2007.
Corpo nascente do Paço dos Arcos visto do Jardim, 08-08-2007.
Um recanto do Jardim do Paço dos Arcos cheio de vegetação frondosa, 08-08-2007.
Jardim do Paço dos Arcos, 08-08-2007.
Jardim do Paço dos Arcos, 08-08-2007.
Jardim do Paço dos Arcos, 08-08-2007.
Por agora ficamos por aqui, com um singelo...
Deus nos acuda!
Fontes:
Blogue Oeiras Local:
4 comentários:
Deixá-lo no estado de ruína em que se encontrava, era muito pior !
Se é para uma Pousada, em princípio, será bem aproveitado, mas tudo depende do arquitecto a quem foi entregue o projecto de recuperação !...
O Fernando Távora faleceu há anos !
Abraços e BOA SORTE !
Caro Zé António, mesmo defendendo (como o comentador acima) que é melhor que um privado recupere o Palácio a deixá-lo cair por incapacidade para manutenção, não deixa de ser confrangedor assistir à autêntica devassa que ali se processa. Em tempo, fui um dos que alertou para o perigo desta situação vir a ocorrer... e ela aí está!
Lamento, igualmente, que os actuais autarcas da freguesia pouco ou nada tenham feito para evitar mais este erro urbanístico, cuja volumetria desfeiará irremediavelmente o "ex-libris" de Paço de Arcos. Faltou interesse, faltou divulgação, faltou mobilização, faltou coragem, enfim, faltou gente com garra para dizer: assim, NÃO!
Gente com garra está a fazer falta em Paço de Arcos e no País - diria eu. A meu ver impera a mola real do dinheiro (que dizem escasso) que vai impondo a sua pata por todo o país. Terão pesado na opção hoteleira os argumentos do estado de ruína do edificado e da incapacidade financeira para ultrapassar tal situação. Claro que terá pesado, também, a estratégia turística que aposta em Oeiras como local de referência para a instalação de equipamentos hoteleiros. Mas se não existir património para ser desfrutado (não indisponível ou descaracterizado) o que passaremos a ter é hotéis dormitórios de apoio a Lisboa.
Como sabemos, durante algum tempo falou-se no desrespeito das disposições testamentárias que terão ou não sido vertidas para o acto de aquisição do Palácio e do seu recheio. Posteriormente as diversas intervenções de munícipes interessados ou investigadores nas diversas áreas do saber cultural (ainda que escassas) chegaram com certeza ao conhecimento dos responsáveis autárquicos.
Aquilo que de errado se venha a fazer (ou já se fez) relacionado com a traça exterior e interior do edifício, com o recheio do palácio à guarda da CMO, com o excesso de volumetria (apagando o edifício histórico e o seu enquadramento), com a eliminação de grande área do jardim e protecção dos espécimes raros, com a destruição do sistema de captação de água (aqueduto), interpela-nos a todos mas certamente interpela em particular a gestão municipal.
Caros amigos,
Subscrevo que o Palácio possa ser adaptado a um 'pequeno' hotel de charme, com respeito absoluto pela arquitectura do edifício - Não sendo viável o desejo do Conde, expresso no testamento, duma Casa-Museu.
O que está a acontecer, pelo que se sabe do projecto, não é isso.
É um 'mastodonte' que arrasa a maior parte do Jardim, e uma intervenção mais que duvidosa na Capela, para além do interior do próprio Palácio.
Será que os técnicos e especialistas, historiadores p.ex., foram chamados a acompanhar o projecto?!
Grato pelos V. comentários.
Abraço,
J A B
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