sábado, 15 de dezembro de 2012

A Torre das Águias




A Torre das Águias
[ arquitectura ]
Águias, Brotas, Mora

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Seduzido e com a curiosidade desperta por esta fotografia
publicada no Facebook por Maria João De Sousa, imagem que mostra, soube depois, um pormenor dum edifício no Alentejo, edifício de todo meu desconhecido, mas deveras interessante, fotografia dizia, em cuja publicação comentei ao jeito de brincadeira “QUÉ ISTO ??? !!! Uma VUVUZELA dos antigos…” e logo de seguida “A sério. Deve ser um forno, mas de quê e onde? Fiquei curioso.“, comentário ao qual Maria João de Sousa, gentilmente respondeu “Também penso que seja um forno, amigo José António Baptista. Tirei a imagem do Google e tudo o que sei é que se chama Torre das Águias e se situa em Brotas, perto de Mora, Alentejo. Acho esta construção muito bonita... mas olhe que eu tenho gostos de pintora-poeta, não sou lá muito comum nestas coisas...“

Fui então à descoberta do que houvesse sobre a dita Torre das Águias que eu, a julgar pela fotografia, pensava ainda tratar-se duma construção independente, um forno, uma chaminé cónica, ou algo doutro género, e não parte de um grande edifício, como vim a descobrir na minha pesquisa.
Mas vamos lá, então!

«A Torre das Águias»

A Torre das Águias está situada na extinta povoação da vila das Águias [ em 1361 era sede de concelho ], hoje reduzida a umas poucas casas setecentistas desabitadas e arruinadas, a cerca de 2 kms. de Brotas, a cuja freguesia pertence, no concelho de Mora e distrito de Évora, Alentejo.

Tem vizinhos o Rio Divor e o santuário de Nossa Senhora das Brotas, a cujo culto se pensa estaria ligada, e a a cerca de 300 mts a Ermida de São Sebastião.

É uma torre quadrangular em estilo gótico-manuelino com alguns edifícios oitocentista (?) anexos.
Tem cerca de 18 metros de lado por cerca de 20 metros de altura, em alvenaria, silharia e cantaria de granito. Divide-se internamente em quatro pisos, nos quais se rasgam janelas quadradas. O último piso abre-se em terraço, com as 10 chaminés do edifício.
A cobertura seria talvez em adarve ou terraço, coroada por merlões com balcões de matacães nos cunhais, arrematados por coruchéus cónicos.

São particularmente curiosos os remates cónicos em tijolo, talvez utilizados como guaritas.

No interior, o pavimento térreo é constituído por um grande salão, coberto por abóbada de ogivas nervuradas; o segundo pavimento divide-se em salão nobre, com vasto fogo de chão e cobertura em abóbada de ogivas nervuradas, e divisões contíguas; o terceiro e o quarto pavimentos não apresentam divisões, e têm coberturas em abóbadas de cúpula abatida.

É um dos mais significativos exemplares de torres manuelinas na região [ Torre do Esporão, Solar da Camoeira, Castelo de Torre de Coelheiros e Quinta da Torre do Carvalhal ]

Presume-se que tenha sido construída no séc. XVI, a partir de 1520, por D. Nuno Manuel, guarda-mor do rei D. Manuel I [ 1495-1521 ], talvez sobre edifício mais antigo.

Antes da sua construção, a herdade onde se localiza pertencia no séc. XV a André do Campo, proprietário abastado que em 1520 a negociou com D. Nuno Manuel, o qual mandou edificar a Torre.
Foram seus proprietários, entre outros, D. Álvaro Manuel [ 1665 ], o Conde de Fontalva, João Lopes Fernandes e Miguel Fernandes [ actual ].

Era utilizada pelos fidalgos para repouso das caçadas e montarias que faziam na região.
Diz-se que o próprio Rei D. Manuel I nela permaneceu.

Como é comum com tantos monumentos antigos, também este tem uma lenda associada.
Reza a lenda que na época das lutas dos cristãos contra os mouros, o senhor da torre foi emboscado e morto pelos mouros enquanto andava à caça. Um escudeiro salvou-se e correu a avisar a senhora, dama muito piedosa, pedindo-lhe que fugisse, uma vez que os inimigos [ mouros ] vinham atacar a torre. A senhora, com devoção, implorou a protecção de Santa Maria de Aguiar. A santa, acudiu milagrosamente, fazendo surgir um cavalo alado junto a uma das janelas superiores da torre, que transportou a dama para um lugar seguro. O chefe mouro ao assistir ao milagre, converteu-se ao cristianismo. A senhora, quando faleceu, legou todos os seus bens ao Convento de Santa Maria de Aguiar.

Chegou a ser utilizada como Câmara Municipal.
Actualmente é propriedade privada, estando integrada na Herdade das Águias [ Outeiro do Peso ].

Está classificada como Monumento Nacional pelo Decreto n° 136 publicado em 23 de Junho de 1910, e sofreu intervenção de reparos, a cargo da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), em 1946.
Desconhece-se qualquer outra intervenção posterior, o que pode explicar o estado de ruína calamitoso a que chegou.

Foi alvo de uma intervenção de restauro em 1946 e outra em 1978 (?) para consolidação.
O actual proprietário gostaria de a ver restaurada congignamente, mas o município não tem verbas suficientes e o Estado, a quem foi pedida ajuda, aainda não deu uma resposta.

Resta-nos assim, com mágua, ver aquele imponente e belo monumento definhar e cair em ruínas.

Fontes:

Wikipédia
Ruin’Arte
IGESPAR
Câmara Municipal de Mora
Perfume de Laranjeira
O Gato Morense
SOS PATRIMÓNIO
RTP
Geocaching - The Official Gloval GPS Cache Hunt Site
Blografias da Sofia

imagens:

vista aérea com Brotas (B) e a Torre das Águias (T)

vista aérea da Torre e de Águias

vista aérea oblíqua  da Torre e de Águias

vista aérea oblíqua da Torre

fotografia de abertura - a imponente Torre das Águias - do sítio internet Wikimedia Commons © Duca696, a quem agradecemos.
fotografias aéreas do Google Earth e do Bing Maps

José António Baptista
Oeiras, 15 de Dezembro de 2012

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